Do Palco Para a Tela

Atores, texto, dramaturgia, encenação, iluminação: até aqui refiro-me aos dois temas tratados nestas linhas. Teatro nasceu primeiro. Atriz, palavra, memória. Frágil, vivo, urgente, sensorial, direto. Então veio o cinema – imagem, som, repetição. Imponente, lapidado, repensado, ilusório. Naturalmente se dividem, mas decidem se misturar. O caminho traçado a seguir acompanha obras que migraram dos palcos para as telas.

No filme O que Traz Boas Novas, baseado em monólogo escrito por Évelyne de la Chenelière e dirigido por Philippe Falardeau, Bachir Lazhar é contratado para substituir um professor do ensino fundamental que morreu tragicamente. Enquanto a classe passa por um processo de superação da perda, ninguém desconfia do drama pelo qual passa o novo professor, que corre o risco de ser deportado a qualquer momento.

 

 

A peça Miss Julie, de August Strindberg deu origem ao filme homônimo (ainda não lançado) dirigido por Liv Ullmann que conta uma história que se passa no verão de 1890: ao longo de uma marcante noite no Condado de Fermanagh, a filha da aristocracia anglo-irlandês incentiva um empregado de seu pai à seduzi-la.

 

 

Terence Rattigan foi o escritor de teatro que deu origem aos filmes Dentro de Casa, Nunca te amei e Amor Profundo.  O primeiro, dirigido por François Ozon, traz o professor Geirman que, já cansado de sua rotina, descobre na redação do adolescente Claude um estilo diferente de escrever e isso dá início a um intrigante jogo entre o menino e o mestre. O segundo  tem direção de Anthony Asquith e acompanha Andrew Crocker-Harris, um professor de latim com problemas graves em seu casamento que está deixando a escola onde trabalhou por muitos anos. Detestado por colegas e alunos, ele encontra conforto na afeição de uma aluna da quinta série, e isso causa impacto em sua vida. O último filme conta pelos olhos de Terence Davies a história do envolvimento entre Hester Collyer, esposa suicida de um Juiz da Suprema Corte e Freddie Page, um piloto alcoólatra da Força Aérea Britânica.

 

 

 

Espaços de Teatro

Arena:

A plateia se localiza no formato de arquibancada ao redor do palco, que tem forma circular.

Parque das Mangabeiras

Semi-arena:

Plateia se organiza em forma de semicírculo, também em arquibancada. A arena se mantém circular.

Espaço Cultural Teatro de Arena Jaime Zeiger

Italiano:

É posicionado de frente para a plateia, e se divide dela pelo fosso da orquestra. Conta com cortina e assentos geralmente individuais.

Teatro Amazonas

Palco Elisabetano ou Isabelino:

Guarda características de palco misto.  O espaço tradicionalmente associado à William Shakespeare é retangular e conta com ampliação no proscênio. A plateia se posiciona à frente e lados esquerdo e direito do palco.

The Globe

Rua:

O grupo se apresenta em local demarcado por ele próprio, e a plateia se posiciona ao seu redor. Utiliza de cenários e adereços de fácil locomoção por conta da localização incerta.

Movimento Escambo Livre nas ruas de Recife

Tragédia

A Teoria

Drama. Herói. Insatisfação com o que está estabelecido, e então luta. Luta contra algo grande e forte suficiente pra dar à história um fim desgostoso e ao herói um fado infeliz. Ei-la: Tragédia Grega.

A Plateia

Arrebatamento. Compaixão. Édipo, de rei de Tebas à cegueira e exilamento permite que o público se sinta livre e ao mesmo tempo se compadeça do mocinho. Ei-la: catarse.

A Base

Catástrofe iminente. Desejo de salvação. Agamenon conduz o público com atos de bravura e inevitávelmente é abraçado pela tragédia. Condução inocente para desgraça. Da glória ao caos completo. Ei-lo: herói.

A Continuidade

William Sheakespeare. John Webster. Henrik Ibsen. Autores e obras que utilizam dos elementos trágicos surgem a cada dia. A palavra tragédia agora é cotidiana. Ei-lo: legado.

Brecht: épico e atemporal

Baal, primeira peça de Bertold Brecht, mostrou que o alemão faria história. O criador do Teatro Épico construiu toda sua trajetória a partir de militância e estética, duas bases que se difundiram para que o público pudesse pensar acerca da sociedade.

Coração à parte, cérebro a mil: o uso do “efeito v” oferece estranheza à história contada, impede o público de entendê-la como drama real, logo, de se emocionar. Dessa maneira, o senso crítico da plateia ganha vida e tamanho.

Outra forma brechtiana de distanciar o público do drama (por mais contraditório que possa soar) é a quebra da “quarta parede”: o personagem se dirige à plateia ou demonstra percebê-la, ajudando a impedir que o público se identifique.

Brertold Brecht foi o homem que deixou legado transformando acontecimentos banais em fatos históricos com seu Teatro Épico e transformando uma peça cotidiana em histórias distantes meritórias de análise fria.

Ator

“Freqüentemente me surpreende a ausência de seriedade em seu trabalho”. Com tais palavras, Eugênio Barba dá início a seu desabafo, que percorre grupos de teatro como lembrete: a arte do ator é a arte da entrega. Física. Psicológica. Temporal. Nunca é tarde para descobrir e nunca soa repetitivo: é preciso abrir mão da autopreservação, do ego e do medo do erro (próprio e do outro) para encontrar possibilidades. Organizar mentiras e verdades e contar uma história.  “Sejam quais foram as motivações pessoais que o trouxeram ao teatro, agora que você exerce esta profissão, você deve encontrar um sentido que vá além de sua pessoa, que o confronte socialmente com os outros”. Que seja uma incessante busca, que a jornada seja cheia de novos saberes. Seja bem-vindo, ator, e não se esqueça do Eugênio.